quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Governo Dilma e seus desafios econômicos / Estado Participativo: Equívocos e Acertos

Posted: 04 Apr 2011 07:45 AM PDT
O Governo Dilma e seus desafios econômicosNa última sexta-feira foi divulgada nova pesquisa CNI-IBOPE, que apontou o apoio de 56% dos brasileiros ao governo da Presidenta Dilma Rousseff. A avaliação pessoal da Presidenta alcançou o índice de 73%. Os dados animaram o governo. Que tal aproveitar o bom momento? Ora, o apoio por parte da população no inicio do governo é fundamental para que medidas extremamente necessárias, mas um tanto impopulares, sejam colocadas em marcha.
Essa mesma pesquisa mostrou um dado muito interessante: para 40% da população, o combate à inflação deve ser a grande prioridade do governo. E é no “acordar do Dragão” que se encontra a grande preocupação do mercado e da maioria dos economistas. A maior das dúvidas diz respeito ao desempenho da nova direção do Banco Central no combate à inflação. Suas decisões estão sendo as melhores possíveis?
Todos sabemos que o Ministro da economia Guido Mantega defende que o Banco Central adote uma postura desenvolvimentista, com juros acomodados e com a tese de que inflação um pouco acima do centro da meta não representa um grande perigo – a inflação mais alta seria um “mal” que valeria a pena suportar para que o país não pare de crescer.
A verdade é que todos já sentimos no bolso os efeitos nefastos da inflação. Uma visita ao supermercado deixa clara a explosão de consumo onde a velha lei da oferta e demanda se fez valer mais uma vez. O que se vê são também reflexos de nosso comprometimento enquanto país, ou a falta dele, em quesitos estruturais de forma a elevar a oferta, uma questão de investimento real no país.
Para quem deseja aprofundar o conhecimento em torno do tema inflação, sugiro a leitura do artigo “Inflação: o monstro abriu um dos olhos”, publicado no excelente site Sobre Administração e escrito por Henrique Bello, que mostra didaticamente a diferença de postura entre os que pregam o desenvolvimentismo e os mais ortodoxos, chamados de monetaristas (caso do atual ministro da casa Civil, Antonio Palocci).
A saída de Roger Agnelli da presidência da Vale
Nesses 90 dias de governo, outro ponto causou bastante repercussão no campo econômico e empresarial: a queda do Presidente da Vale, Roger Agnelli, após a companhia apresentar ótimos resultados em 2010 e impressionantes 903% de aumento nos lucros durante os seus dez anos de gestão.
Está claro que sua saída é mais uma questão política que administrativa, afinal nunca se discutiu a competência técnica do executivo. A coluna do jornalista Guilherme de Barros, no portal IG, informou que para a demissão de Agnelli pesou o desligamento de Demian Fiocca da diretoria da Vale. Demian é um dos amigos mais próximos do Ministro Mantega.
O que dizer? Ora, que isso é péssimo para imagem do Brasil e mostra que nossa postura perante a realidade econômica de um país que joga de acordo com as regras de bom desempenho e meritocracia é deixada em segundo plano. Primeiro parecem estar os interesses dos amigos e aliados. Política do interesse próprio. Uma pena.
Termino o texto de hoje lembrando que o país avançou muito nos últimos vinte anos. O criador do termo Brics, Jim O’Neill, classifica o Brasil como surpreendente, já que atingiu o posto de 7ª economia do mundo dez anos antes do esperado. Resta saber se esse crescimento que nos trouxe até aqui continuará, ou se voltaremos ao período onde os interesses pessoais e políticos estavam à frente de tudo.
Boa semana a todos.
Foto de sxc.hu.



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Este artigo foi escrito por Ricardo Pereira.
Educador financeiro, palestrante, autor do livro "Dinheirama" (Blogbooks), trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama. No Twitter: http://twitter.com/RicardoPereira
Este artigo apareceu originalmente no site Dinheirama.
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Posted: 03 Apr 2011 08:08 PM PDT
Estado Participativo: Equívocos e AcertosMesmo que eu tente evitar recorrer aos termos e expressões batidos do senso comum, nada resume mais a situação que a afirmação: “nada é perfeito”. Antes de nos acomodarmos com essa realidade, e mesmo que seja nossa obrigação cobrar para que eventuais imperfeições do estado sejam objeto de correções e ajustes, uma análise distante de generalizações ou mesmo da crítica e do elogio vazio pode trazer a elucidação de fatos do viés político e econômico, que na modesta opinião deste que vos escreve são de grande relevância.
Inicio minha abordagem com a recordação das críticas proferias pelo investidor George Soros, dirigidas ao modelo econômico no qual o estado se omite totalmente dos controles regulatórios da economia, atuando com timidez na sua indução e limitando-se a prover (muitas vezes nem isso) o velho - e não tratado - trinômio educação, saúde e segurança.
Para este grande financista, que iniciou sua formação ainda criança vivenciando os horrores (e a tenebrosa aventura da sobrevivência, como ele próprio afirma em sua autobiografia) da perseguição nazista na Hungria da Segunda Grande Guerra e que, após a queda da “cortina de ferro”, apoiou e investiu para que no leste europeu pós comunismo se instaurasse uma economia de mercado pautado na livre iniciativa, um estado ausente e omisso representa invariavelmente uma bomba relógio difícil de ser desarmada.
Como sabemos, a conta salgada dos aportes governamentais norte-americanos para evitar uma tragédia ainda maior comprova que ele sempre esteve certo. No outro extremo, quando o estado exagera no seu protagonismo e ultrapassa os seus limites de ente servidor, acaba por operacionalizar uma usina de ineficiência econômica, geralmente acompanhada de uma boa pitada de ingerência na sociedade[bb], a quem em última análise deve prestar contas e satisfações, antes de importunar. O estatismo que observamos no início da década de 70 e que começou a diluir vinte anos depois é um bom exemplo.
No caso do Brasil contemporâneo (esse do dia a dia), particularmente não observo nenhum dos extremos. Apenas (felizmente) noto o empenho de uma estrutura governamental que, independentemente de sua corrente política, vem tentando, desde os anos 90, “acertar o caldo”. Deixando claro que isso não inocenta e nem atenua a responsabilidade por equívocos e erros cometidos por uma estrutura remunerada (e cara) para acertar.
Entretanto, alguns fatos muito recentes demandam destaque.
Com atenção, assistimos a possível movimentação governamental para substituir o presidente funcionalmente bem sucedido de uma importante companhia de capital aberto. O caso Vale. Isso é saudável? Penso que não.
Por outro lado, observamos a articulação do governo incentivando grandes grupos genuinamente nacionais a aportar recursos, a partir de uma visão de longo prazo, em nossa indústria de defesa, objetivando dinamizá-la de forma sólida.
Peço desculpas se vou na contramão do pensamento politicamente correto vigente, mas nessa hora saio em defesa da iniciativa governamental. O crescente protagonismo internacional apregoado ao Brasil por conta de sua crescente força econômica, aliada aos elementos geopolíticos de nossa condição, está muito mais para destino natural do que para uma opção controlável.
E, nesse contexto, uma indústria de defesa própria, tocada por uma abordagem empresarial de viés estratégico e de longo prazo se constitui num eixo fundamental para, ao menos, (já que a guerra não nos interessa, uma vez que somos não só “bonzinhos por natureza”, mas abençoados por ela com recursos naturais abundantes) contarmos com o poder dissuasivo necessário.
Lembrando que em termos de geopolítica e estratégia nacional, o horizonte ultrapassa três décadas. E, nesse caso, o agora impensável não passa de uma ilação. Observem, por favor, os nossos “amiguinhos” de grupo (BRIC’s – Russia, India, China).
Destaco também que o incentivo e a indução econômica por parte de governos ao setor é padrão nas economias mais liberais, justamente por conta das complexidades envolvidas e dos prazos de maturação.
Os benefícios não param por aí. O componente tecnológico agregado da indústria de defesa traz no seu rastro desenvolvimento e pesquisa com inúmeras aplicações civis e industriais. Em resumo: pesquisa, ciência, cientistas, tecnologia de ponta, educação avançada e muito mais.
Para concluir, recorro à Gastronomia[bb]. O bom cozinheiro está sempre tentando acertar o caldo, o tempero, mas não pode jamais deixar de observar os comensais. Eles pagaram pela refeição e merecem respeito.
Até o próximo.
Foto de sxc.hu.



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Este artigo foi escrito por Plataforma Brasil.