segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O grande no pequeno





Mais fácil amar o gênero humano do que o nosso vizinho. Mais frequente se indignar com a matança de elefantes no Zimbábue do que com o abandono da gatinha na esquina da minha rua. Não sei porque isso ocorre, mas sinto que é assim.
Conheço corações filantrópicos que pagam muito mal seus empregados. Encontro pessoas cujo discurso é amplo, articulado, bem intencionado. Mas a prática delas é estreita, displicente, ferina.
A surrada história do companheiro sindicalista, capaz de mobilizar colegas por relações de trabalho mais justas. Mas em casa, este companheiro desce o braço na mulher e fala aos berros com os filhos.
As pessoas de direita também não ficam fora. Acusam a esquerda de ultrapassada e autoritária. No entanto, detestam o movimento feminista, o movimento negro, os homossexuais. Soltam misantropias pelas ventas.
Pois uma coisa é apontar o dedo para os caminhos e descaminhos da sociedade, outra é iluminar e acertar o caminho pessoal. A pergunta não é apenas se um outro mundo é possível. A pergunta também é eu sou uma boa pessoa?

1. Não puxo o saco, nem o tapete?
2. Sou transparente nas minhas relações?
3. Pratico a solidariedade com os que estão a minha volta?
4. Respeito quem pensa diferente de mim?
5. Sou um ser gentil?
Ou será que sou um tipo genérico? Desses que detestam tudo que se relaciona ao poder dos outros, mas que não abrem mão do próprio poder: Odeio os ricos porque sou pobre. Odeio os gays porque sou hétero. Odeio o mundo porque não me chamo Raimundo.
Não estou dizendo que a gente deva abrir mão de causas, princípios, pensamentos gerais, bandeiras. É evidente que somos seres políticos e que tudo que é social nos diz respeito. É certo que queremos ética no mundo político de Brasília.
No entanto precisamos, ao mesmo tempo, cultivar a ética íntima. A ética do cotidiano. Respeitar bicicleta e faixa de pedestre. Não desqualificar o diferente. Não tentar ganhar no grito. São atitudes que estão ao alcance das nossas mãos. Por mais frágeis que essas mãos sejam.


Fonte: YAHOO