quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Uma pequena fábula sobre como empreendedores percebem oportunidades

ShutterstockA história do americano Jim Poss pode ser um exemplo de como nascem as boas ideias. Residente de Boston, ele chamou a atenção de estudiosos de uma universidade situada na sua cidade, nada mais nada menos que a prestigiosa Harvard University. Poss é o fundador da BigBelly Solar, uma empresa que faturou US$ 4 milhões produzindo compactadores de lixo movidos a energia solar. A tecnologia bombou - ele já vendeu seu produto a empresas e cidades de 30 estados americanos e 17 países. Agora Poss está colhendo os frutos de sua inovação e figura entre os empreendedores sociais mais proeminentes dos Estados Unidos. Mais que seu sucesso, porém, o que ele gosta de celebrar é a trajetória percorrida entre a concepção da ideia e a transformação em um produto.

Em um dia de 2003, Poss andava pelas ruas de Boston quando notou um caminhão de lixo bloqueando o tráfego. Espalhando detritos pelo chão e soltando fumaça como um fumante de charuto, o veículo não era um exemplo de eficiência e sustentabilidade ambiental. Intrigado com o que vira, Poss estudou melhor o problema. Descobriu que os caminhões de lixo consumiam mais de 3,5 bilhões de litros de diesel por ano nos EUA. Pior ainda, só rodavam cinco quilômetros com um galão de combustível, o equivalente a 3,7 litros. Na época, havia um debate entre os municípios sobre a viabilidade de adquirir veículos mais eficientes e traçar rotas de coleta mais inteligentes.
Não era a melhor opção, na visão de Poss. Mais viável e barato que organizar um processo de coleta mais eficiente, por que não reduzir a frequência das viagens? Se as lixeiras comportassem mais lixo, não precisariam ser esvaziadas tão constantemente. Se o lixo não precisasse ser coletado tão frequentemente, os custos e a poluição seriam reduzidos. E, se as lixeiras não transbordassem, não haveria muitos detritos nas ruas.
Ele levou a discussão para um grupo de amigos interessados em causas sociais. O debate engrossou e choveram sugestões. As ideias, somadas à experiência prévia de Poss com tecnologias solares, resultaram na criação da lixeira com compactador, capaz de armazenar cinco vezes mais lixo que as convencionais. Com a invenção, a frequência das coletas caiu, e os custos e as emissões diminuíram cerca de 80%.
Jim Poss usou três práticas comuns a empreendedores de sucesso, afirmam os estudiosos H. James Wilson, Danna Greenberg, and Kate McKone-Sweet. Eles estudaram 1.500 empresas, atrás de padrões para identificar o nascimento de boas ideias. Confira abaixo as descobertas.
Contar com conhecimento próprio e social. Empreendedores criam oportunidades dentro do contexto de quem são, do que sabem e de quem conhecem. Poss começou com um problema percebido por ele em sua vida cotidiana. Ele aplicou seus conhecimentos prévios e conectou as ideias com seus pares. É uma trajetória de inovação consagrada.
Usar cognição ambidestra. O que os pesquisadores querem dizer é que Poss foi capaz de oscilar entre a previsão e a criação no que diz respeito a seus pensamentos e ações. A previsão é baseada na análise usando informações disponíveis, que funciona melhor em condições com baixos níveis de incerteza. Já a criação se refere ao esforço para gerar informações que não existem ou não estão acessíveis. Poss usou a previsão quando analisou as informações financeiras e operacionais sobre o consumo de combustível pelos caminhões. Quando as informações não estavam disponíveis, ele as criou por meio de conversas e protótipos.
Em um esforço consciente, uma dessas maneiras de pensar pode ser usada para informar e ampliar a outra, com abordagens complementares. Ao intercalar previsão e criação, os empreendedores são capazes de criar mais valor do que usando apenas uma das formas de pensar.
Considerar simultaneamente valores sociais, ambientais e econômicos. Essa visão holística é capaz de analisar todo o escopo de impactos que os empreendedores precisam levar em consideração. Poss foi capaz de considerar, simultaneamente, os benefícios para os clientes (redução de custos para os municípios) e o impacto ambiental (menos emissões de poluentes) sem desprezar a busca pelo lucro ou privilegiar um aspecto mais que o outro.