terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O que é luxo?


Há muitas definições possíveis. E, provavelmente, todas aquelas que lhe vierem à cabeça valem. Mas gostaria de acrescentar algumas, de minha própria percepção. Luxo, em muitas situações, é inteligência. Em outras, é eficiência. Luxo pode ser uma brisa suave em uma praia deserta. Um copo de água gelada no deserto. Um ar-condicionado digital em meio ao verão tropical. Ou, ainda, marcas famosas, carrões, iates, mansões. Depende da referência.

No meu caso, em um dia qualquer no fim do ano passado, luxo teria sido um telefonema. Estava em um hotel cinco estrelas na capital paulista para participar de um evento e, em dado momento, precisei ligar para o motorista da empresa que me levaria de volta à editora. Havia esquecido o celular na redação. Ao perceber o lapso, já quase à porta do local, confiei na boa vontade da casa – afinal, um estabelecimento acostumado a receber executivos do mundo todo e eventos de negócios deveria ter um serviço em caso de emergência. “Pode deixar que eu peço ajuda para telefonar”, disse ao meu colega de trabalho pouco antes de desembarcar. Na hora da verdade, o luxo falhou.
Pedi ajuda a um funcionário do hotel, e ele me orientou a ir até o balcão no hall de entrada. Lá, no entanto, o recepcionista me informou que não poderia sob nenhuma hipótese fazer a ligação. Argumentei que pagaria o valor padrão cobrado nos quartos. Mas mesmo assim o empregado se recusou. Em seguida me disse que havia uma sala com telefones na área de eventos que poderiam ser utilizados. “Ótimo.” Ao chegar ao local, qual não foi minha surpresa ao encontrar apenas aparelhos públicos a cartão. “Tudo bem”, pensei. “É só comprar os créditos lá no balcão e ligar.” Entretanto, no atendimento, o concierge me explicou que o hotel não vendia cartões. A única alternativa era comprá-lo em uma banca de jornal a várias quadras dali.
O episódio me fez pensar em quão despreparados ainda somos em termos de treinamento turístico. Dois anos atrás me hospedei em um hotel de uma rede internacional em Buenos Aires. Lá, o concierge usava o telefone como instrumento de trabalho: reservava restaurantes e passeios, chamava táxis e outros serviços. Sem custo adicional. No estabelecimento brasileiro, eu não consegui uma ligação nem mesmo ao me oferecer para pagar a taxa padrão – que, aliás, em muitos hotéis chega a custar até dez vezes o valor do minuto da companhia telefônica. E por que manter uma ala de aparelhos públicos sem ter cartões disponíveis? Imaginem um hóspede estrangeiro: se a bateria acaba ou o celular, por qualquer motivo, não funciona no país, sua única alternativa é ligar do quarto e pagar o preço do hotel.
Mais do que uma tevê de plasma no apartamento, ao fim da temporada o turista vai se lembrar mesmo de um atendimento eficiente, cordial, discreto e que resolva. Isso no país ainda é considerado luxo. Mas deveria ser regra. Com a Copa do Mundo e a Olimpíada, o Brasil vai entrar em um novo patamar de visitação turística. Deveremos, no mínimo, dobrar nossa média de visitantes estrangeiros. Por isso, não há mais tempo para amadorismo. Manter esse novo status entre os viajantes do mundo exige uma experiência de acordo com padrões internacionais. Nada que possa ser estragada por um telefonema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário