segunda-feira, 1 de agosto de 2011

É preciso saber ensinar para se aprender

Na edição de julho, a revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios lançou a pergunta: empresário precisa estudar? A reportagem responde de modo bem completo à questão. Mas esse tema também se encadeia em outras discussões. O capítulo seguinte seria algo como: de que modo deveria ser o ensino empreendedor? Entrevistei um startapeiro, ele próprio estudante universitário, que deixou um depoimento muito rico, no qual contrapõe teoria e prática, ou seja, qual a aplicabilidade das aulas no mundo real.

Diego Reeberg, 23 anos, lançou junto com Luis Ribeiro, 20 anos, o site de crowdfunding Catarse em janeiro de 2011. O ponto de partida da startup remonta a nove meses antes, quando o grupo elaborou um plano de negócios a partir de ideias discutidas em disciplinas de empreendedorismo na faculdade. Mas, na visão do jovem empresário, há muito que se avançar ainda na questão do ensino do tema.
É um assunto polêmico. Mas creio que a experiência de Diego possa acrescentar muitos pontos importantes na discussão. Leia a transcrição do depoimento:
“Cursei três disciplinas relacionadas a empreendedorismo. As duas primeiras tinham um caráter de mostrar ao aluno que, além dos tradicionais empregos em grandes corporações, bancos de investimento e consultoria, há também outra opção: empreender. A dinâmica era ter ideias, juntar um grupo, preparar um plano de negócios e apresentar aquela ideia no final do curso. A princípio parece algo interessante, mas, na minha visão, há uma sucessão de falhas desse formato de ensino:
Pensar o empreendedorismo como ‘uma disciplina a mais’. Não dá. Empreendedorismo poderia ser o foco principal de uma faculdade, como é em Babson ou em Stanford. De que adianta eu querer empreender se eu tenho mais oito disciplinas que não se relacionam com o assunto? Fica difícil pensar em empreender se eu tenho que me preocupar com a prova de cálculo.
O modelo de ensino em que os alunos aprendem a empreender na prática me parece muito mais útil. Ficar um ano desenvolvendo um plano de negócios (e, relembrando, cheio de outras atividades para serem feitas) não parece a melhor maneira de ensinar e motivar alguém a empreender.
Na experiência que eu tenho em seis meses desde a criação do Catarse, nosso modelo de negócios é um constante aprendizado. Se tivéssemos feito um plano lá no início, seria apenas um amontoado de papéis descartados. A dinâmica hoje é muito rápida, ainda mais pra um negócio inicial (lógico, eu falo isso da perspectiva de alguém que tem um negócio na web. Se eu quiser empreender em uma fábrica de chocolates, uma análise um pouco mais demorada e elaborada faz sentido).
A gente é muito pouco incentivado a ver as coisas na prática. Se sua ideia é de internet, vá passar uma semana colado em um empreendedor da internet, não ficar pesquisando no Google. Se sua ideia é a de uma fábrica de sapatos, vá para Franca ficar no pé de um empreendedor que já vivenciou isso.
Acabamos fazendo o trabalho desse curso com um embrião do que viria a ser o Catarse. Mas, lógico, tinha que ter um plano financeiro, mostrar perspectivas de ganho e tal. Todos os números chutados. Planos, planos e planos, sem nada muito concreto. Ficou bonito de se ver, mas não é o que acontece na prática.
Sobre o começo do Catarse, nós nos juntamos em abril de 2010. Eu e mais quatro colegas de turma. Era um grupo que queria fazer algo diferente, que não queria empregos em bancos de investimento e grandes empresas. Discutíamos semanalmente ideias que tínhamos tido, mas nada era realmente empolgante/apaixonante. Como queríamos fazer algo logo, deixamos de lado nossas ideias e fomos buscar novos modelos de negócio que estavam dando certo fora do Brasil. Aí a gente conheceu o site americano Kickstarter (referência mundial em crowdfunding) e resolvemos que era esse negócio que queríamos trazer para o Brasil.
Fomos atrás de abrir empresa, contratar advogado, programador. E descobrimos que não tínhamos aprendido nada disso na faculdade. Muitas coisas básicas sobre empreender a gente não aprende na faculdade. Pensa-se em ideias fabulosas, planos estratégicos, planos financeiros, mas eu não sei como eu faço para escolher um contador.
Fomos aprendendo errando (e, lógico, perdendo dinheiro com isso). Alguns meses depois, 3 dos 5 amigos não ficaram mais na ideia (viram que ela não empolgava tanto assim), enquanto eu e o Luís Ribeiro continuávamos apaixonados por ela. Poucos meses depois, por causa de um amigo intermediário, conhecemos o Daniel Weinmann, de Porto Alegre, que veio a ser um dos sócios-desenvolvedores do Catarse. Isso foi no final de outubro do ano passado.
Uma semana depois começamos um blog, para articular uma comunidade em torno de um assunto  muito pouco falado no Brasil. Dois meses depois, lançamos uma das primeiras plataformas de crowdfunding do Brasil.”

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