quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um retrato atual do empreendedor brasileiro


Abrir um negócio próprio não é mais opção para a falta de emprego, mas sim uma oportunidade de crescimento profissional e de independência financeira. Porém, ainda há um grande déficit educacional a suprir – principalmente quando se fala de gestão de pessoas, fluxo de caixa eadministração dos negócios. Pelo menos é o que aponta a pesquisa Empreendedores Brasileiros2013 – Perfis e Percepções, realizada pela Endeavor (organização não governamental) em parceria com o Ibope Inteligência.
O levantamento, que procurou distinguir particularidades, ambições e dificuldades dos mais de 3 mil entrevistados entre proprietários de empresas e potenciais empreendedores, identificou alguns perfis, como “desbravador”, “antenado”, “arrojado”, “pragmático” e “lutador”, entre outros. A pesquisa mostrou também que a quantidade de negócios abertos hoje por oportunidade (58%) é maior do que os abertos por necessidade (42%). E quando as empresas têm funcionários, o primeiro indicador aumenta consideravelmente, e sobe para 86%.
Outros dados mostram que é alta a vocação para o empreendedorismo: 76% prefeririam ter um negócio próprio a ser funcionário de terceiros.
Autonomia – De acordo com a Endeavor, essa é a segunda maior taxa do mundo, e só fica atrás da Turquia (dados da pesquisa Eurobarometer 2012). Para eles, empreender é considerado um meio de alcançar “prazer, autonomia e realização”. Seguindo essa mesma linha, a pesquisa mostra que quase 90% dos brasileiros acreditam que “empreendedores são geradores de empregos”. Do total, praticamente todos concordam que ter um negócio próprio é “assumir responsabilidades”, ou “colocar a mão na massa”.
Massa – No entanto, é justamente o que falta: mão na massa, aponta Amisha Miller, gerente da área de pesquisa e políticas públicas da Endeavor. Segundo ela, os participantes foram estimulados a comentar o que dá certo em uma empresa. Em geral, as palavras mais citadas eram “liderança”, “paixão”, ou “determinação”. “Mas ninguém nunca falou em ‘educação’, ‘treinamento’, em ‘inovar’ ou ‘ser melhor’”, completou. E os dados que refletem isso revelam que, enquanto 98% conhecem o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apenas 46% tiveram algum tipo de relacionamento com a instituição.
“Gasta-se pouco tempo em se desenvolver, mas sim em ir atrás de clientes. Quando se trabalha em uma empresa, sempre procura-se desenvolvimento. Mas quando o negócio é próprio, o pensamento muda: acham que ou se ‘tem’ ou ‘não tem’ (características empreendedoras), que não é preciso aprender, mas ter ‘atitude’. E não é verdade: 24% dos que tiveram sucesso nos negócios e mais empregam concluíram ensino superior.”
Déficit – Independente do perfil dos empreendedores entrevistados, a pesquisa da Endeavor detectou quatro principais problemas, sendo que três estão ligados à falta de conhecimento:gestão de pessoas, fluxo de caixa e administração do negócio (o quarto é falta de investimentos). Outra informação que merece alerta e está ligada à anterior, é que boa parte dos entrevistados acredita que o empreendedorismo é “intrínseco à pessoa” – e por isso, colocam a formação emgestão em segundo plano. Como exemplo, Amisha citou frases dos entrevistados, como “quando uma pessoa é um empreendedor, não precisa nem fazer tantos cursos: é nato, é dele”, disse um deles, ou, “nós tivemos exemplo aí há pouquíssimo tempo, do Steve Jobs (da Apple), que não tinha formação superior, e no entanto o empreendedorismo dele é um exemplo pra qualquer um”, afirmou outro.
“Na pesquisa, vimos que a maioria dos empreendedores tem contato com pouco conteúdo formativo/informativo. Mas há também a crença internalizada que o empreendedorismo é um dom inerente – o que pode inibir a busca por capacitação”, opina a gerente.
Por outro lado, Amisha também destaca que a pesquisa detectou que um a cada trêsempreendedores vem de família chefiada por empresários. Ou seja: é notória a influência dos exemplos no empreendedorismo. “São exemplos reais, onde nós vimos que há casos em que, quando há um ‘mentor’, uma vocação, a chance de empreender é maior”, completa Amisha.
Por esses e outros motivos, a finalidade dessa segmentação por perfis, segundo Amisha, é auxiliar as organizações voltadas ao empreendedorismo a investir recursos de forma mais eficaz, usando melhor os canais de comunicação para alcançá-los. Isso porque não se pode tratar osempreendedores (28% da população entre 16 e 64 anos) e os que são potenciais (33% da amostra) como um grupo padrão, afirma. “Temos duas perspectivas: que o empreendedor entenda o quanto é importante se desenvolver para crescimento do negócio a longo prazo. E que, ao invés de ‘vender de tudo para todo mundo’, as organizações saibam fazer o marketing certo para grupos certos – e para orientar bem as empresas que querem investir”, conclui ela.

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